Publicado em 1987, é uma verdadeira obra-prima entre os livros de memórias. Um clássico dos nossos dias.
"Mal me lembro dos homens. Eles estavam por toda parte, lógico - maridos, pais, irmãos -, mas só me lembro das mulheres", escreve Vivian Gornick a certa altura deste livro. O território é o Bronx nova-iorquino da década de 1940, um lugar cercado de mulheres ansiosas e boas de briga, destacando-se entre elas a indomável mãe judia da autora. Afetos ferozes é a história de um elo delicado e muitas vezes exaustivo, a crônica de uma ligação que define e limita ao mesmo tempo. É também o retrato de uma sociedade e de uma era em que as mulheres começaram a se tornar protagonistas de suas próprias histórias - além de uma das mais profundas meditações sobre a experiência de ser mulher. Crítica, jornalista e ensaísta experiente, Gornick perambula pelas ruas de Manhattan com sua mãe idosa. Ao longo desses passeios repletos de histórias, lembranças, reprimendas e cumplicidades, conhecemos a história da luta - ferrenha e muitas vezes dolorosa - de uma filha para encontrar o seu lugar e a sua voz no mundo. Desde cedo, a pequena Vivian sofre a influência de dois modelos femininos bastante distintos: o da mãe neurótica, teimosa e inteligente; e o de Nettie, sua apaixonada vizinha, viúva, mãe de um bebê, perfeitamente consciente de sua própria sensualidade. Essas duas figuras representam padrões que a jovem Gornick a um só tempo anseia e detesta, e que vão determinar seu relacionamento futuro com os homens, com o trabalho e com outras mulheres pelo resto da sua vida. Escrito com uma clareza atordoante que fascina desde a primeira linha, Afetos Ferozes pode ser lido como um grande romance da tradição literária norte-americana do século xx. Mas um romance de não ficção em que a memória, a família, a palavra escrita e a força inesgotável das mulheres são as grandes protagonistas.