Em 2003, quando as crônicas deste livro começaram a ser publicadas na internet, o samba já não era "a única coisa" que Nei Lopes - como ele diz em um de seus sambas - podia dar ao Irajá, bairro da zona norte carioca onde o sambista que virou escritor nasceu. Ele já havia publicado mais de dez livros desde sua primeira incursão na literatura com o ensaio "O Samba, na Realidade", quase vinte anos antes.
Mas foi nesse período que sua produção literária começou a ganhar corpo. Os textos aqui apresentados captam Nei no auge de um jorro criativo que resultaria, de lá pra cá, em mais de vinte livros, entre romances, dicionários, livros de história, poesia, coletâneas de contos e até uma enciclopédia, chegando a um total de 35 obras publicadas - número que certamente estará desatualizado quando você estiver lendo essas linhas, já que sua produção tem chegado a 3 ou 4 trabalhos por ano.
Não bastasse o que produzia na intenção de publicar em livro, Nei vivia escrevendo crônicas por puro prazer. Vez ou outra uma delas ganhava as páginas de algum jornal, mas o que ficava inédito era tanto (e com tamanha qualidade), que eu - um privilegiado leitor desses textos por conta de nossa amizade - propus a criação de um blog para desovar esse material. Enquanto muitos tinham um site (sítio), Nei resolveu chamá-lo de Meu Lote.
Com a possibilidade agora de que os textos chegassem a um grande público, e com a novidade da interação com os leitores através dos comentários, ele começou a se dedicar ainda mais às crônicas escritas especialmente para a internet, com a total liberdade de temas, forma e tamanho que o meio oferece.
A seleção que você tem em mãos vai até 2008, um período de cinco anos em que centenas de textos chegaram ao Meu Lote, num caldeirão com os mais variados assuntos e tons. Ele trata de história, do samba, de questões do negro, traça perfis de personagens curiosos, lembra os tempos de garoto e expõe seu pensamento crítico sem nenhuma censura.
São textos que compilados acrescentam mais um volume a uma extensa e brilhante trajetória literária, com um estilo próprio que o faz ingressar na galeria de grandes cronistas cariocas.