Estudos sobre o amor, de José Ortega y Gasset, é uma reflexão filosófica profunda sobre a natureza do amor humano, publicada originalmente em 1941. Longe de tratar o amor como simples emoção ou impulso sentimental, Ortega o analisa como uma força espiritual, um movimento da atenção que nos leva a escolher, exaltar e "projetar" valor sobre o outro. Para o filósofo, amar é dirigir a alma, concentrar-se intensamente em alguém até transformá-lo no centro do próprio mundo interior.
Ortega explica que o amor não nasce do acaso, mas de uma predisposição ativa do sujeito, que seleciona certos traços do amado e os amplia, quase sempre idealizando-os. Assim, o amor revela mais sobre quem ama do que sobre quem é amado. Esse processo envolve também uma espécie de "cegueira", pois o amante tende a ignorar defeitos e a destacar qualidades, construindo uma visão singular da pessoa amada. Contudo, essa idealização não é uma ilusão pura: ela expressa a potência criadora do espírito humano, capaz de elevar a realidade a um plano mais alto.
O filósofo distingue entre formas superiores e inferiores de amor. O amor autêntico, para Ortega, é aquele que faz crescer, que impulsiona o amado e o amante a se aperfeiçoarem mutuamente. Trata-se de uma experiência que compromete todo o ser, diferente das paixões superficiais que apenas excitam os sentidos. O amor verdadeiro é duradouro porque se apoia numa eleição profunda, não em estímulos passageiros. Já a paixão efêmera resulta de uma dispersão da atenção, incapaz de sustentar um vínculo espiritual.
José Ortega y Gasset (1883-1955), um dos maiores pensadores espanhóis do século XX, combina em sua obra análise fenomenológica, crítica cultural e uma prosa brilhante. Em Estudos sobre o amor, ele oferece uma das interpretações mais refinadas e originais da experiência amorosa na filosofia moderna. O livro permanece atual por revelar o amor não como mistério inatingível, mas como um ato de consciência que ilumina a essência do ser humano.